Segundo Carlos Juliano Barros, em matéria para o UOL, o envelhecimento da população do país, revelado pelos dados do Censo 2022, que foi elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta para ao menos dois grandes desafios do mercado de trabalho: a superação do “etarismo” e o avanço do chamado “gerontariado”.
Para quem não tem familiaridade com os termos, comenta Barros, etarismo diz respeito à discriminação baseada na idade das pessoas. O gerontariado, por sua vez, é um conceito que mescla gerontologia, o estudo do envelhecimento, com “precariado”, o conjunto de trabalhadores privados de direitos básico.
Esses dois desafios acendem a luz amarela no semáforo do mercado de trabalho brasileiro, ou melhor, “um sinal grisalho”. De acordo com o IBGE, o número de idosos cresceu 57,4% entre 2010 e 2022. A cada 100 brasileiros, 11 já têm mais de 65 anos. Além disso, o Censo constatou que metade da população já passou a casa dos 35 anos.
Além, obviamente, do inegável impacto sobre o sistema de aposentadorias, Barros afirma que o envelhecimento da população também precisa ser urgentemente pensado sob a ótica do acesso ao mercado de trabalho e da garantia de empregos decentes.
Um estudo lançado em 2022, onde foram pesquisadas 191 empresas de 13 setores diferentes pela consultoria Ernst & Young em parceria com a Maturi, agência de treinamento profissional, mostrou que 78% das corporações ouvidas se consideram etaristas e admitem não ter políticas para evitar a discriminação por idade em seus processos seletivos.
“O envelhecimento populacional, associado a uma expectativa de vida mais longeva, é usualmente usado como justificativa para o prolongamento do tempo dedicado ao trabalho. No entanto, viver mais não é necessariamente sinônimo de viver bem. Além disso, trabalhar após certa idade nem sempre é uma escolha, mas uma necessidade”, explica Barros.
Atualmente, cerca de 66% dos aposentados pelo INSS recebem apenas um salário mínimo por mês. Com as regras ainda mais duras aprovadas na Reforma da Previdência de 2019, a maior parte dos brasileiros terá direito a um ou a no máximo dois salários mínimos, renda que passa longe de garantir segurança financeira.
“A Reforma da Previdência colocou em evidência a questão do idoso que vai ter uma aposentadoria insuficiente e que vai precisar retornar ao mercado”, afirma Bruno Chapadeiro, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Aí, muitas vezes, a única alternativa é se submeter a um trabalho precário, justamente pela dificuldade de encontrar um emprego decente que o etarismo gera”, acrescenta o professor.
Em minha singela opinião, caso esse tema não passe a ser abordado com bastante profundidade e seriedade, mais rápido do que se imagina, o sinal amarelo passará a vermelho! Diante dessa preocupante realidade, é imprescindível que sejam pensadas e formuladas estratégias empresariais e políticas públicas que garantam ocupações decentes para uma crescente parcela da população que seguirá demandando empregos, mesmo depois de aposentada.