As fábricas do futuro terão apenas dois empregados: uma pessoa e um cachorro. O trabalho da pessoa será o de alimentar o cachorro e o do cachorro será garantir que a pessoa não toque em nada. Segundo o site Vagas For Business, foi assim que Bryce Goodman, speaker da Singularity University, encerrou sua apresentação no Deloitte Industry Transformation Cycle (ITC) 2019, realizado em São Paulo.
Logicamente, essa afirmação é um grande exagero, porém, torna-se extremamente importante pensar na empregabilidade das pessoas com a ascensão, nas últimas décadas, das máquinas nas empresas. De acordo com Fernanda Canofre, em matéria para o UOL, O avanço tecnológico permitiu que robôs e Inteligência Artificial (IA) realizassem algumas tarefas mais rápidas e precisas do que humanos. Por isso, não é à toa que discussões sobre máquinas substituindo pessoas sejam tão recorrentes. Contudo, se depender de startups brasileiras, o trabalho para que exista um equilíbrio nessa relação está sendo feito.
As tecnologias vão reduzir riscos e agilizar atividades sem deletar o papel do trabalhador. É o que defende Luma Boaventura, presidente-executiva e cofundadora da AI Robots, com foco em usar robótica e IA para otimizar processos em indústrias. “A tecnologia não veio para substituir, mas para complementar os profissionais e trazer mais qualidade de vida para a gente”, afirmou a executiva durante participação em palestra sobre “O futuro da robótica”, realizada em maio desse ano, no evento South Summit, em Porto Alegre. Realizado tradicionalmente em Madri desde 2012, é a primeira vez que o encontro sobre inovação acontece no Brasil.
Um exemplo dado por Boaventura em sua apresentação foi a de um cliente produtor de celulose. Cada vez que fardos com o produto tinham que ser colocados em trens para serem transportados, era preciso que um trabalhador movimentasse a pesada porta do vagão para inserir a carga lá dentro, enfrentando risco de acidente e desconforto ergonômico. Para resolver a questão, um robô foi integrado ao processo. “O trabalhador continua lá, mas ele não faz mais a função de arraste da porta, que era a mais crítica. Ele faz a abertura, que é muito delicado [para] o robô fazer, e o robô faz o processo pesado de deslocar a porta”, explica. “Esse é o futuro da robótica, enxergá-la como a serviço do ser humano. A gente precisa aculturar as pessoas do Brasil para que elas percam o medo [das tecnologias].”
Segundo Canofre, especialistas e consultores de mercado afirmam que é inevitável que empregos deixem de existir e profissões desapareçam conforme novas tecnologias surjam e as antigas se fortaleçam. Mas, ao mesmo tempo, acredita-se que novas vagas serão criadas. O desafio aqui passa então a ser em termos de qualificação.
Por isso, é fundamental que empresas e governos invistam em treinamentos e ensino de novas habilidades para que profissionais possam continuar no mercado de trabalho. A preparação antecipada de políticas assistenciais e a chamada renda básica universal também são vistas como formas eficientes de apoio aos trabalhadores.
Essa renda envolveria uma espécie de bolsa paga por governos visando alimentação e necessidades básicas ao indivíduo. Canofre comenta que Bill Gates, grande nome da indústria da tecnologia e fundador da Microsoft, por exemplo, chegou a propor um “imposto de renda robótico”. Ou seja, uma taxa paga por empresas cada vez que um robô substituir um humano.
Torço para que Bryce Goodman esteja errado e Luma Boaventura esteja correta. Torço também para que a renda básica universal, ideia defendida pelo Prof. Eduardo Suplicy e ratificada por Bill Gates, seja efetivamente levada a sério e colocada em prática aqui no Brasil.
Por Murilo Carneiro