Por Murilo Carneiro

No livro que escrevi sobre Orçamento Familiar*, comento que, infelizmente, a grande maioria das pessoas esquece que se aposentará um dia, portanto, não se prepara financeiramente. Normalmente, quando a aposentadoria chegar, as receitas diminuirão e as despesas aumentarão. Para ilustrar tal afirmação, basta que seja lembrado que o valor pago pelo INSS aos aposentados quase sempre é inferior ao salário que a pessoa possuía quando ainda estava trabalhando.

Além disso, quando uma pessoa que trabalha em uma empresa se aposenta, perderá o convênio médico e precisará fazer um plano particular. Para pessoas com idade mais avançada, tais planos são caríssimos. Também é importante lembrar que poderá haver mais gastos com remédios e que o indivíduo poderá ter filhos que ainda não se tornaram independentes, fazendo faculdade e financiando suas atividades de entretenimento às suas custas, ou seja, filhos “paitrocinados”.

“Apesar de saber deste risco, de acordo com uma pesquisa elaborada pelo Tesouro Nacional, cerca de 75% das pessoas não possuem previdência complementar. Por este motivo, a busca por alternativas para complementar a previdência tem aumentado nos últimos anos. E uma nova opção acaba de ser lançada pelo Tesouro Direto para facilitar este planejamento por parte dos investidores: o Tesouro RendA+”, comenta a XP Investimentos.

Começando em 30 de janeiro de 2023, o investimento nos títulos Tesouro RendA+ funciona da mesma maneira que outros títulos do Tesouro Direto, ou seja, apenas pessoas físicas poderão investir. Mensalmente, o valor mínimo a ser investido é de R$ 30,00 e o máximo de R$ 1 milhão.

Obviamente, como é um produto novo, muitas indagações surgirão em relação às suas características. Neide Martingo, em matéria publicada pela Infomoney, apresenta algumas dessas indagações com suas respectivas respostas:

1) Qual a rentabilidade?
Taxa de juros mais a variação da inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Atualmente, os juros oferecidos nos papéis Tesouro IPCA+ já negociados na plataforma do Tesouro Direto estão acima de 6% ao ano.

2) Por que pode ser considerado uma forma de complementar a aposentadoria do INSS?
Com o Tesouro RendA+, o investidor pode planejar uma data para aposentadoria garantindo o recebimento de uma renda extra pelo período de 20 anos seguintes. Há possibilidades de investimento para até 40 anos de acumulação, sempre seguidos por mais 20 anos de fluxo de renda mensal.

3) Como vai funcionar na prática?
O Tesouro RendA+ prevê duas “fases”: uma de acumulação e outra de recebimento de renda. Durante a fase de acumulação, a pessoa faz aportes mensais. No vencimento do título, o valor investido passará a ser devolvido. A devolução será feita em 240 prestações mensais – ou 20 anos – que amortizam todo o fluxo investido no período de acumulação.
Exemplo: se a data planejada pelo investidor para sua aposentadoria for 2060, ele deverá comprar títulos Tesouro RendA+ com esse prazo de vencimento. Quando o vencimento do título chegar, o investidor passará a receber uma renda mensal até 2080.

4) Quais as datas de vencimento dos títulos?
Serão ofertados oito prazos de vencimento, com intervalos de cinco anos entre eles, de 2030 a 2065. O primeiro vencimento será em 15 de janeiro de 2030.

5) Será possível vender o Tesouro RendA+ antes do vencimento?
Sim. Como explica Camilla Dolle, head de research de renda fixa da XP, os ativos vão funcionar da mesma forma que outros títulos do Tesouro Direto: o investidor poderá resgatá-los a qualquer momento.
Porém, Camilla chama a atenção para um detalhe: o investidor precisa observar a condição de mercado no momento do resgate antecipado. Ele será vendido pelos preços de negociação do dia – que podem ser maiores ou menores do que o valor pago no momento do investimento. Dessa forma, o investidor tanto poderá registrar ganhos quanto prejuízos em caso de venda antes do vencimento.
Samuel Torres, consultor financeiro da Onze, comenta que é importante destacar que a rentabilidade acordada na compra do título (taxa de juros + IPCA) é assegurada somente para investidores que mantiverem o ativo até a data de vencimento.

6) Dá para resgatar o valor todo de uma vez ao fim do período de acumulação?
Segundo Camilla, sim, também seguindo a regra da venda pelo preço de mercado. Porém, pode não fazer sentido – a não ser em casos em que o investidor se veja em uma emergência financeira que o obrigue a levantar recursos.

7) Como saber quanto investir no Tesouro RendA+ para garantir um bom complemento de aposentadoria?
Um simulador no portal do Tesouro Direto faz a conta para o investidor e diz quantos títulos precisam ser adquiridos para que ele receba o valor de “aposentadoria” desejada quando terminar o período de acumulação. Acesse o link: https://www.tesourodireto.com.br/rendamais/
Uma outra indagação, que com certeza surgirá na mente dos investidores, é se o Tesouro RendA+ é igual aos planos de previdência privada. Julia Wiltgen, em matéria para o site Seu Dinheiro, comenta que as diferenças entre os dois produtos são bem maiores que as semelhanças; portanto, não há a mínima possibilidade de um vir a substituir o outro.

“Para quem tem menos prazo pela frente, é mais iniciante ou simplesmente não quer se dar ao trabalho de entender um pouco mais sobre planos de previdência e pesquisar um bom produto, o novo título público aparece como uma alternativa bastante prática, simples de entender e fácil de acompanhar, já capaz de ‘segurar as pontas’ na aposentadoria”, afirma Wiltgen.

Sempre defendi a ideia que não há um “investimento ideal”, visto que cada um possui características diferentes. Portanto, antes de optar por investir no Tesouro RendA+, busque maiores informações sobre ele. Verifique se, dentre as vantagens e desvantagens que possui, poderá ser o tipo de investimento que se enquadre em seu perfil.

Em relação ao que acabo de afirmar, Artur Scaff, em matéria publicada pelo Estadão, comenta que, apesar de possuir algumas desvantagens, o novo produto, caso seja utilizado até o seu vencimento, atenderá ao seu propósito de ser uma boa opção para complementação da aposentadoria.