Quando se fala em educação financeira, muitos já imaginam aquela tremenda dor de cabeça na hora de colocar tudo na ponta do lápis e organizar as contas. Essa atividade, porém, pode se tornar prática, fácil e habitual, ao fazer parte da rotina e estar presente no cotidiano das pessoas.

Para isso, a ciência da Contabilidade é uma aliada na hora de planejar o orçamento, economizar e executar aquilo que foi estabelecido como meta. Contudo, é preciso ter foco, disciplina e consciência de que abrir mão de alguns desejos pode ser crucial para obter êxito na conquista de algo muito maior.

De acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o Brasil registrou, em setembro deste ano, o marco de 79,3% de famílias endividadas e 30% de inadimplentes. Esse aumento no endividamento, segundo a CNC, foi provocado pelo grande número de contratação de dívidas entre consumidores de renda média e baixa.

Segundo a professora, doutora e vice-diretora da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas (Face) da Universidade de Brasília (UnB), Mariana Guerra, a questão orçamentária passa necessariamente pelo planejamento familiar formal ou informal.

Para Mariana, não se trata apenas da questão financeira, mas também de desejos, projetos e estilo que se pretende desenvolver ao longo da vida. De acordo com a especialista, o planejamento faz-se primordial e, nesse sentido, é necessário responder às seguintes perguntas: Há pretensão de se ter filhos e casa própria? Em quanto tempo? Ambos os responsáveis pela família – em uma estrutura com, por exemplo, dois adultos em idade ativa – têm ou pretendem ter fonte de renda?

Uma vez alinhado o planejamento familiar, a questão orçamentária deve responder ao planejamento para evitar surpresas, endividamento e decepções. Este é um compromisso de todos os integrantes da família que afetam e também serão afetados por tal estruturação.

A professora da UnB afirma, ainda, que “praticar um estilo de vida incompatível com a renda familiar não é sinônimo de qualidade de vida”. Segundo a pesquisadora, é preciso agir da maneira correta para sair do vermelho e colocar as contas em dia. “A primeira ação é avaliar a situação precedente e identificar os fatores que levaram a pessoa a estar no vermelho”, pontua.

É importante reavaliar os gastos efetuados e identificar se é uma situação pontual ou se a forma como a pessoa leva a vida é incompatível com a renda aferida. Assim, será possível seguir as orientações da especialista e colocar o orçamento em dia.

Para a segunda ação necessária, Mariana diz que é preciso ter maturidade para estabelecer e aceitar um estilo de vida compatível com o faturamento familiar, além de buscar melhorias com o passar do tempo. “As famílias precisam se planejar para sair da situação deficitária. Nesse ponto, é necessário identificar as prioridades essenciais de gastos e reorganizar as finanças”, afirma.

Contudo, outros aspectos da vida financeira demandam atenção, e um deles é o incentivo aos investimentos financeiros. Segundo a vice-diretora da Face, não basta simplesmente investir: é preciso ter um objetivo para isso. “O investimento familiar também pode se dar por meio do financiamento da casa própria, como uma forma de construir patrimônio”, pondera.

Ainda de acordo com Mariana, o hábito de investir demonstra comprometimento financeiro e a boa gestão dos recursos aferidos pela família. “Uma população com bons hábitos financeiros é interessante para a economia do país, porque amplia as possibilidades de aplicação de recursos e a dinamicidade dos investimentos”, conclui.

Assim, aliar a contabilidade ao dia a dia das famílias é de suma importância para a saúde financeira dos lares. Os profissionais da contabilidade contribuem para esse planejamento e podem auxiliar as famílias a alcançarem os objetivos estabelecidos.

Um dos momentos que podem estreitar a relação das pessoas com os profissionais da contabilidade e contribuir para a mudança de mentalidade é quando são realizadas as declarações de Imposto de Renda.

Para Mariana Guerra, essa ocasião constitui “uma excelente oportunidade de o profissional avaliar as finanças familiares e indicar boas alternativas de investimento. Imóveis não alugados, dinheiro parado na poupança ou, ainda, um plano de aposentadoria complementar que possa ser otimizado”.

Em suma, de acordo com as orientações da especialista, a gestão financeira não é nem deveria ser apartada de uma boa reflexão sobre anseios e desejos enquanto pessoa, no curto e no longo prazo. “Não há erro em se satisfazer, desde que isso não comprometa a manutenção de suas necessidades essenciais”, finaliza Mariana.

Fonte: Comunicação Conselho Federal de Contabilidade