Ingressar no mercado de trabalho é fundamental para que a pessoa consiga ser independente, tenha autonomia e liberdade para realizar seus sonhos e alcançar seus objetivos pessoais. Segundo o Neuroconecta, com as pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) não é diferente. Porém, encontrar um trabalho pode ser um desafio para os autistas.

Mesmo que eles desenvolvam as suas potencialidades desde cedo, ainda há muita falta de informação e preconceito que podem barrar as chances de um autista conseguir um emprego e se manter no mercado de trabalho, afirma o Neuroconecta.

Felizmente, desde 2007, após a publicação da Convenção de Direitos das Pessoas com Deficiências, foi reconhecida a necessidade de “estímulo à inserção da pessoa com TEA no mercado de trabalho”. Porém, infelizmente, ainda não existem políticas públicas que tratem do assunto e reforcem a necessidade de ter um incentivo de contratação de pessoas com o TEA.

Acredito que o primeiro passo para fomentar a contratação delas seja as empresas tomarem conhecimento das vantagens que podem obter ao contratá-las. De acordo com o Neuroconecta, empresas que possuem colaboradores com TEA identificaram as seguintes vantagens:
 

1) As pessoas com autismo têm facilidade em trabalhar com atividades rotineiras e processos padronizados;

2) São avessos ao descumprimento de normas estabelecidas no ambiente de trabalho;

3) Se atrasam menos e são mais focados nas atividades;

4) Possuem alta capacidade de memorizar dados e processos relativos à sua atividade laboral;

5) Gostam de manter o ambiente de trabalho limpo e organizado;

6) São profissionais que se motivam com facilidade em relação às tarefas propostas;

7) São capazes de ir além para buscar informações para completá-las;

8) Pensam de forma diferente e podem dar respostas que fujam do pensamento convencional;

9) Podem apresentar habilidades e conhecimento aprofundado em determinadas áreas.


“Existem funções que possuem alta rotatividade por causa do tipo de trabalho, muitas vezes repetitivo e suscetível ao erro. Uma pessoa do espectro autista, por exemplo, que tem características como hiperfoco, pode desempenhá-las com melhores resultados de produtividade”, diz o psicólogo Marcelo Vitoriano, CEO da Specialisterne Brasil, organização sem fins lucrativos que qualifica e inclui pessoas com autismo em empresas.

A Danone, multinacional do ramo alimentício, é uma das empresas que estão trazendo neurodiversos para seu quadro de colaboradores. Atualmente são quatro funcionários, todos na área de tecnologia, mas o desejo é expandir a iniciativa para outros setores. “Tínhamos dificuldade com algumas vagas e encontramos em pessoas do espectro autista as características importantes para o nosso negócio”, afirma Letícia Araújo, líder de cultura, inovação e diversidade da Danone. Antes de receber esses funcionários, a companhia realizou um workshop com o gestor da área e toda a equipe, para que os acolhessem de maneira inclusiva e empática. Além disso, o RH faz acompanhamento periódico da evolução desses contratados.

Segundo Paula Simões, em matéria para o Você RH, a adaptação de algumas práticas é realmente um dos pontos mais importantes para as empresas que queiram ampliar seus programas de inclusão para neurodiversos. Nos processos seletivos, por exemplo, as tradicionais dinâmicas de grupo, que favorecem candidatos que se mostram falantes, sociáveis e criativos, podem ser um desafio para quem tem TEA. Por isso, é necessário pensar em atividades de menor exposição, que possam identificar o potencial e as habilidades de quem não se enquadra no padrão.

Julie Goldchmit, 25 anos, mostra que pessoas dentro do espectro podem, sim, construir uma carreira, mas que adaptações devem ser feitas. Assistente de marketing desde 2019 na Unilever, multinacional de bens de consumo, Julie é autora do livro “Imperfeitos: um relato íntimo de como a inclusão e a diversidade podem transformar vidas e impactar o mercado de trabalho” (Maquinaria Editorial), que aborda sua trajetória e seus desafios.

Letícia Furlan, em matéria para o Você RH, comenta que o relato de Julie vai ao encontro com a importância de capacitar e promover pessoas dentro do espectro autista, prática fundamental aos princípios da inclusão e diversidade.

“É preciso desmistificar definitivamente o preconceito de que essas pessoas não são capazes, e, paralelamente, ter a percepção em desenvolver as atividades corporativas olhando para as habilidades de uma pessoa autista, pois fica muito fácil fazer a inclusão no mercado de trabalho quando conseguimos enxergar as habilidades de pessoas dentro do TEA”, afirma a neurocientista Carolina Videira, especialista em inclusão e diversidade.

Murilo Carneiro